contra a fúria
dessas águas
o veleiro
luta
por sustentar
na proa o
dia-amanhã
no vai-vem
dessa dança marítma
é que a cortina de sal
se esconde
na sombra das ondas,
ocultando das redes
o que vem do fundo
e bóia
cumprem o dever
o dia e o homem.
acima, céu cinza
de cansaço, abaixo
o escuro do pé
descalço.
frente a estrada
de casa, o retorno
de amanhã:
anoitece fechar-
de- olhos, amanhece
mãos-em
colisão com o
solo arando,
ensolarado
na varanda do
meu ouvido ainda
ouço o eco de
tua voz
prometendo ser
qualquer ruído
de manhã nu'a tarde
algoz
solene descansa
descalço perene
calçada sublime
simples
fala viva
sobre vivências
sobrevive
ainda
passar dos tempos
noite passa-
tempo clara
presença
da lua uivando
pululando crescendo
boca-a-boca pulando
palavras
uma onda mostrou-te
o veneno
que o mar guarda
na cauda de sua beleza
foste o fruto que não brotou
entre as pedras,
a carne que o sal não conservou...
risco no chão
de pedra branca
do sal que aqui
se condensa
estátua esculpida
pelo vento que
a noite esconde
com as mãos:
aqui: o sal
a vida
o ocaso o
norte
a fuga a lástima
risco escamas
na orla dos ombros
onde nascente deságua
risco no chão
de pedra negra
via que aqui
se revela que
sobe a serra
a'onde em que
encerra
a raiz:
nesta terra
pátria local
de suor
porque calor
risco-me vento na
tela-corisco em cor
de cinza e tarde
silenciosa.