segunda-feira, 11 de abril de 2011

saio pra dentro
de onde fixo estou
saio de tudo todo
saio o que restou
saio essa saída
que em mim entrou
sair é entrar instante
que continua passou
abra a porta da rua
deite,colchão de concreto
seja a paixão pela lua
um sentimento por perto
seja o aperto o apito
que acorda aquilo incompleto
todo prazer seja alívio
pra quem faz de si deserto

quinta-feira, 7 de abril de 2011

As portas que a porta tem - I

porta não se comporta
torta ou direita
depende da mão
que abre ou fecha
fechadura ferrolho
atrás da porta
pouco importa
ninguém mete olho
só mão e boca
e pimenta e molho

As portas que a porta tem - II

a porta esconde
e revela segredos
limite dinâmico
de tudo que vejo.

a porta é o bonde.

quando menino
tomá-lo escondido
e passar sem passagem
em caminho infecundo

a porta, seja o que for
também é o mundo.

só entra pra porta
quem enxerga fundo
e movimenta parado.
na porta só entra
quem abre terreno
para ser arado.
eu, por que ego
se onde chego
de mim desapego ?
escrevo antes
o tanto em pouco
a poucos instantes

incofesso:
minha saída em ti
fosse regresso

trix

três a mil
todo engenharia
se viu

coordenadas

planos
planos
em cor de nada

sexta-feira, 25 de março de 2011

 

todo mundo procura
tudo que é criatura
ninguém procura com beijo
alguém sem retinas pra espelhos
olho no próprio olho
boca gosto cabelo
tato sabor braços
assim de bruços no vácuo
o abraço abraça a si mesmo

ninguém tem nem

ninguém tem nem

um centavo
calvo
alvo
avo de avô

tem ninguém nem

uma casa
rala
rasa
brasa de amor

ninguém nem tem

chuva
nuvem
nervos de aço
neve frio calor

nem tem ninguém

domingo, 20 de março de 2011

pensei repassei
repensei se sei.

- agora o sol sempre se pôs.

eis
que passei
dancei disfarcei
dispensei

- agora o sol nunca se pôs.

sei que não sei
e nem sou
-isso sei-
sem saber
que sei que sei que
seu céu sem sol
só ser seu céu sem sol

- agora nem "sol", pois.

sábado, 19 de março de 2011

pouco coco
toco oco
foca oca
bica boca
cuco rouco
coca calo
cola colo
clara cala
calmo corpo

terça-feira, 15 de março de 2011

há mundo no fundo
cá mudo mudo o meu
calo pra ouvir o fazer
falo pra calar minhas mãos
tato para conhecer
aquilo que se verá
quando o olho recusar a ver
e o mundo no fundo é
o que fundo (nem antes
nem depois) agora será
como foi
eu todo nós dois
o que há no fundo dessas horas
que correm até o outro dia
que me cansam correr por elas
ao ver que ainda não passam da partida?

que me doem passar por elas
ao ser prisioneiro ainda
não do que elas aguardam
nem do que para onde caminham
mas do momento que acontece
para acontecer - até
os últimos segundos.

a vida é feita nos segundos...
o calor do dias frios
e o ar gélido dos dias ensolarados
provêm das companhias silenciosas
invisíveis
que rodeiam-me. 

nunca estou só. nem ficarei
enquanto perder meus sentidos
e o sentido de tudo

enquanto confundir
com o mundo aquilo
sou.
sopro o pó
do universo
sobre o teu corpo

enquanto suspiras
a canção das folhas
voando

a tarde cai
sobre o chão
e respinga na lua ascendente
a mancha do teu olhar...

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011



contra a fúria
dessas águas
o veleiro
luta
por sustentar
na proa o 

dia-amanhã

no vai-vem
dessa dança marítma
é que a cortina de sal
se esconde
na sombra das ondas,
ocultando das redes
o que vem do fundo
e bóia

cumprem o dever
o dia e o homem.
acima, céu cinza

de cansaço, abaixo
o escuro do pé
descalço.

frente a estrada
de casa, o retorno
de amanhã:

anoitece fechar-
de- olhos, amanhece
mãos-em

colisão com o
solo arando,
ensolarado
na varanda do
meu ouvido ainda
ouço o eco de

tua voz

prometendo ser
qualquer ruído
de manhã nu'a tarde
algoz


solene descansa
descalço perene
calçada sublime
simples

fala viva
sobre vivências
sobrevive
ainda

passar dos tempos
noite passa-
tempo clara
presença

da lua uivando
pululando crescendo
boca-a-boca pulando
palavras


uma onda mostrou-te
o veneno
que o mar guarda
na cauda de sua beleza

foste o fruto que não brotou
entre as pedras,
a carne que o sal não conservou...

sábado, 5 de fevereiro de 2011

risco no chão
de pedra branca
do sal que aqui
se condensa


estátua esculpida
pelo vento que
a noite esconde
com as mãos:


aqui: o sal
a vida
o ocaso o
norte


a fuga a lástima
risco escamas
na orla dos ombros
onde nascente deságua

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

risco no chão
de pedra negra
via que aqui
se revela que


sobe a serra
a'onde em que 

encerra
a raiz:


nesta terra
pátria local
de suor
porque calor


risco-me vento na
tela-corisco em cor
de cinza e tarde
silenciosa.

domingo, 30 de janeiro de 2011

 pó
 d'areia
 rodeia
 no vento,
 permeia
 cinzento
 o arrebol.
'parece primeira
 estrela:caminho de
 poeta é mesmo do girassó.
cavalgar árduo
no capinho
sob céu descalço
de luz


(sabedoria
da enxada
inflamada na mão)


campo limpo
ao redor:
olhar sempre
mesmo nas coisas,
sem cor.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

vem do vento
alegria

do catavento
energia

no relento
rede de pescaria

o movimento-
pescar do dia
teus cabelos
ondulam
águas de 
Ponta Negra 

de selva

escura relva
que me rodeia
e observa

amor viver
enquato morro
ao Careca
madrugada
nem ouve
cantardegalo

coberta
no manto ainda
silenciosa

movimento:
menosprosa

com o sono:
levantarderede

em casa, na maré:
estaticontínuo viver.
a visão
fluxo
ao interior 
incofesso

de
onde a onda
inunda
o corpo
convexo

de um sentir-
furioso: indo-
voltando-indo:
gozo.

domingo, 16 de janeiro de 2011

um poema
tal máquina de guerra
funda-se
do que menos se espera

urge
em surgir das pedras
flor
que perdeu pétalas

grita
ó página abafada
revolução em forma
rimada

nômade
não se prende
ao presente. presa-
livre do movimento.
vem do vento
a alegria

do catavento
a energia

no relento
rede de pescaria

o movimento
amanhecia
a alegria
da energia
de pescar
o dia
o homem era analfabeto
mas não nas coisas da vida
três dias só de birita
regado à cabeça de galo
no olho apertado o calo
do sal das ondas do peixe
"vivo assim me deixe
nessa vida de ruas incertas
errando o incerto se acerta
até que o sopro de barro nos deixe''

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

às vezes
me reporto à infância
àquela terra...
garotas serranas
vestidas de espanto curioso
e eu no meu canto
inconsciente de que uma divisão
invisível morava em mim.

hoje
(momento doloroso)
é rapidez de pensamentos
girando em torno
de multinacionais

é místico aquele
pensar-lento

mas não há espaço
para misticismos
a menina
andou e
passou

vendo:

lua de vênus
na mira do arpão
o balanço
tropical
da rede ligada
no pé de pau

ignora
meu alvoroço
nesse pouco-a-fazer
nessa paz
carregada por
séculos numa garrafa
                            interior
eu me perco
nas noites frias
nos bares
no silêncio
das páginas
a confusão das letras
nas ondas que levam
sargaço a imensidão
me perco 
no momento
no vento
no ventre,
sereno,
ao relento