sexta-feira, 25 de março de 2011

 

todo mundo procura
tudo que é criatura
ninguém procura com beijo
alguém sem retinas pra espelhos
olho no próprio olho
boca gosto cabelo
tato sabor braços
assim de bruços no vácuo
o abraço abraça a si mesmo

ninguém tem nem

ninguém tem nem

um centavo
calvo
alvo
avo de avô

tem ninguém nem

uma casa
rala
rasa
brasa de amor

ninguém nem tem

chuva
nuvem
nervos de aço
neve frio calor

nem tem ninguém

domingo, 20 de março de 2011

pensei repassei
repensei se sei.

- agora o sol sempre se pôs.

eis
que passei
dancei disfarcei
dispensei

- agora o sol nunca se pôs.

sei que não sei
e nem sou
-isso sei-
sem saber
que sei que sei que
seu céu sem sol
só ser seu céu sem sol

- agora nem "sol", pois.

sábado, 19 de março de 2011

pouco coco
toco oco
foca oca
bica boca
cuco rouco
coca calo
cola colo
clara cala
calmo corpo

terça-feira, 15 de março de 2011

há mundo no fundo
cá mudo mudo o meu
calo pra ouvir o fazer
falo pra calar minhas mãos
tato para conhecer
aquilo que se verá
quando o olho recusar a ver
e o mundo no fundo é
o que fundo (nem antes
nem depois) agora será
como foi
eu todo nós dois
o que há no fundo dessas horas
que correm até o outro dia
que me cansam correr por elas
ao ver que ainda não passam da partida?

que me doem passar por elas
ao ser prisioneiro ainda
não do que elas aguardam
nem do que para onde caminham
mas do momento que acontece
para acontecer - até
os últimos segundos.

a vida é feita nos segundos...
o calor do dias frios
e o ar gélido dos dias ensolarados
provêm das companhias silenciosas
invisíveis
que rodeiam-me. 

nunca estou só. nem ficarei
enquanto perder meus sentidos
e o sentido de tudo

enquanto confundir
com o mundo aquilo
sou.
sopro o pó
do universo
sobre o teu corpo

enquanto suspiras
a canção das folhas
voando

a tarde cai
sobre o chão
e respinga na lua ascendente
a mancha do teu olhar...